Tive durante anos, na estante esquerda da minha sala, uma cassete VHS, magnética, com Belarmino, o filme em que um pugilista português, criado nas ruas e nos ginásios, explica o que é um homem a sério e para que serve.

Um dia colei-lhe, numa simbiose improvável da técnica, e da arte do cinema, o CD digital de O Delfim: outro tipo de homem, aristocrata, mas também levado pela queda violenta do ser português. Quando me convidaram para escrever o guião de Em Câmara Lenta, ainda não lera o livro de Pedro Reis e não conhecia pessoalmente Fernando Lopes.

Encontrei o Fernando numa esplanada e, em quinze minutos que ainda não acabaram, falámos dos filmes, livros, dos homens e mulheres, de um mundo absoluto de amor, angústia e humor, sons e imagens reinventados, portugueses e universais. Da vida em que todas as acções humanas têm uma dura resposta à espera, não se sabe como nem porquê. Um mundo de que só os mestres do cinema têm a chave, do princípio até hoje. É uma honra, Fernando, e o meu trabalho, o mergulho no mar, é todo seu.

Rui Cardoso Martins
Argumentista
Estreia